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Opinião: Por que tantos conflitos?
Essa é uma pergunta que muitas vezes nos fazemos ou não. O conflito é algo tão arraigado em nós, que vivenciamos conflitos diuturnamente e os encaramos como algo que já faz parte do nosso cotidiano. Afinal, quem nunca vivenciou um conflito?
Podemos apontar como várias as causas que levam o indivíduo a experimentar um conflito, visto que os enfrentamos quando crianças, jovens, adultos ou idosos com os nossos pais, irmãos, familiares, amigos, vizinhos, parceiros, estranhos, conosco mesmos…Ufa!
Pois bem! Então: o que seria um conflito? Quando nos deparamos diante da vontade desejada por um e resistida por outro ou por si mesmo, falamos que está instaurado um conflito. Importante lembrar que essas diversas opiniões sobre um mesmo fato é que gera um conflito. A sociedade moderna preza pela velocidade das informações, a ausência de diálogo e o egoísmo ou egocentrismo exacerbado. Esses são alguns fatores que desencadeiam em um litígio.
Seis ou nove? Depende! Ambos têm razão e está tudo certo. Só é preciso exercitar o diálogo para que se chegue ao meio. Dizia Aristóteles, o meio termo está na virtude (a ética do meio termo aristotélica). Nem a falta e nem o excesso. Praticando a generosidade e deixando de lado o egoísmo, ensina o saudoso Flávio Gikovate, encontramos o justo.
Assim, surgidas em meio à semente da ética do filósofo grego, atualmente dispomos de diversas ferramentas de pacificação na resolução de conflitos. Objetivando propagar a cultura da paz, técnicas de aperfeiçoamento do diálogo entre as pessoas permeiam a sociedade hodierna e só não faz uso quem não quer. É bem verdade que se trata de uma cultura que ainda está sendo implantada cérebro abaixo na cabeça dos indivíduos.
Conciliação, mediação, constelação familiar, hipnose, programação neurolingüística (PNL), terapia familiar sistêmica, justiça restaurativa, hoponopono, barra de acess, regressão, thetahealing, psicanálise (de Freud, de Lacan etc), terapia cognitivo-comportamental (TCC), terapia de análise corporal (o corpo fala), microfisioterapia, yoga…(é muita coisa!). E ainda assim, vemos arraigada a cultura da judicialização: eu não consigo resolver meus problemas e preciso que um terceiro “imparcial” decida por mim.
Engana-se quem acha que são métodos alternativos de resolução de conflito. São verdadeiramente métodos ADEQUADOS de pacificação. Mais uma vez, se equivoca quem acha que eles são mais céleres que o Judiciário, afinal é possível a realização de algumas sessões nas câmaras de mediação que levariam mais tempo para por fim a uma determinada lide do que a boa e velha canetada do magistrado.
São métodos que empoderam as pessoas, isso sim! Mostram a elas que são capazes de resolver seus problemas sem a intervenção de um terceiro que nem de longe é imparcial. Nem neutro, perdoem-me os processualistas civis. O juiz é um ser humano e como tal, ele vivencia sentimentos e emoções muitas vezes trazidos pelas partes e dificilmente ele consegue apertar o botão para desligar-se das suas vivências e julgar com frieza uma demanda que chega a sua Vara.
Voltamos ao tempo de ensino. Ensinam-se as pessoas a dialogarem. A comunicação não violenta de Marshall nos diz que devemos exprimir nossas observações, sentimentos, necessidades e fazermos um pedido específico e realizável. Parece simples, mas não é! Tomados por sentimentos ou emoções que roubam a alma, toda e qualquer racionalidade diante de um conflito não existe. Alegam os psicólogos que numa discussão entre um casal, um não escuta o outro, pois, enquanto um fala, o outro formula em seu cérebro a sua defesa. Triste! E assim, famílias se desfazem porque os pais não souberam dialogar.
Em razão desse cenário, eis que surge o Direito Sistêmico, voltado para a aplicação das leis sistêmicas de Bert Hellinger, as leis do amor: ordem, pertencimento e equilíbrio (dar e receber). Há quem defenda a quarta lei que seria a aceitação. A advocacia sistêmica aparece como um diferencial, pois o advogado deseja não apenas atender a questão jurídica do seu cliente, mas também cuidar de suas feridas, do conflito que está por trás daquele aparente.
É comum nas Varas de Família, uma ação de partilha de bens não se resumir à simples divisão do patrimônio do casal e sim à vingança daquele cônjuge que foi abandonado ou trocado por outra pessoa. E o Poder Judiciário é o único canal que eles conseguem visualizar para despejar todos os seus sentimentos negativos sobre o outro. Toda a história de amor é esquecida, é apagada da memória. E o pior, muitos casais apenas repetem padrões de seus sistemas e por isso, a relação não dá certo. Não dá porque não era pra dar mesmo. Obra do universo que conspira contra ou à favor, conforme tem que ser.
Crenças religiosas à parte, as pessoas precisam aprender que toda vez que uma casa cai, têm-se duas opções: ou morrem soterradas em seu processo de vitimização, amarradas a um passado amargurado, cheio de um veneno que só leva à morte a elas mesmas, ou constroem-se pontes para um futuro surpreendente, para um renascimento, para a descoberta fascinante de muitos mistérios.
O universo pôs à disposição as ferramentas necessárias e fica o convite para as pessoas serem livres ou não. No meu ponto de vista, a libertação e o reencontro com o seu próprio eu superior não tem preço.
*Elisa Maria Pinto de Souza Falcão Queiroz
Defensora Pública