Política
Ketwayê: a cerimônia Krahô de hibernação que transforma meninos em guerreiros
Cânticos, dança, corrida da tora, pinturas corporais, empenação, banhos e comidas compõem o Ketwayê, cerimônia de iniciação dos meninos Krahô na vida adulta.
Conhecida como cerimônia da hibernação, o Ketwayê marca a iniciação dos meninos Krahô na fase adulta, composto por cânticos, dança, corrida da tora, pinturas corporais, empenação, banhos e comidas. No Tocantins, a aldeia Cachoeira, no município de Goiatins, promoveu a cerimônia na última semana de setembro, de 20 a 25, com o apoio da secretaria dos Povos Originários e Tradicionais (Sepot).
“Essa cerimônia indígena dos krahô, essa tradição, chama-se empenação das crianças”, explicou o cacique Derlindo Krahô.
A decisão de quem participa do ritual é do cacique, nesta edição do Cacique Odilho. Entre os critérios para decisão estão a idade do menino e as condições da família para ajudar na cerimônia com comida, tecido e pintura. O responsável por organizar toda a cerimônia foi o Cacique Derlindo.
Desta vez, participaram meninos com idade entre 2 a 17 anos: os mais novos para aprender sobre o Ketwayê; e aqueles com idade a partir dos 8 anos participam efetivamente do ritual de passagem, no final se tornaram adultos guerreiros. Eles começam a cerimônia, conjunto de rituais e tradições, com a indumentária de miçangas, depois são pintados com urucum e terminam com a empenação.
Organização social
Para que a cerimônia aconteça, há envolvimento de toda a comunidade. O modo de organização da cerimônia é um exemplo da organização social da aldeia, que tradicionalmente acontece a partir de dois partidos: Nascente e Poente. Dentro deles, há subgrupos representados por animais. “periquito, urubu, tatu peba, coruja, raposa, gavião, periquito verde e os brancos [não indígenas], os kupen”, explica o Cacique Derlindo. Cada grupo possui responsabilidades específicas pela organização dos eventos da cerimônia.
Enquanto a cerimônia acontece, duas mulheres assumem a função de rainhas. Nessa edição, duas meninas também participaram se preparando para, no futuro, tornarem-se rainhas. As rainhas realizam a recepção dos visitantes na aldeia e recebem ofertas (comida) e presentes (como tecidos e roupas), os quais são distribuídos no final da cerimônia a toda comunidade.
Há revezamento também nos cantos na cerimônia. Cantores de outras aldeias ajudam a manter a cantoria, cada vez que cantam, as mulheres respondem.
Durante a festa, é preparada uma das receitas tradicionais dos Krahô: paparuto, pizza feita com carnes, peixes, mandioca e milho. A massa é preparada em cima de folhas de bananeira. Quando pronta, é levada até um local com pedras quentes e lenha para cozinhar.
Cerimônia é composta por vários rituais
Cada momento do ritual possui significados. Os banhos são feitos para que os meninos cresçam grandes e fortes; as pinturas representam o movimento das águas, chuva caindo e água correndo.
Na corrida de tora, há competição entre os grupos Poente e Nascente: nos primeiros dias, a comunidade corre em torno da aldeia; nos últimos, há corrida de 5 km com participação de todos da aldeia com objetivo de demonstrar força e resistência, explicou o Cacique Derlindo.
Diariamente há a surra do guerreiro: quando, quem quiser, se aproxima do cacique e recebe a surra com palha com o objetivo de fortalecer o guerreiro.
Nos últimos dias do ritual, os meninos são pintados, e plumas são fixadas em suas peles. A cerimônia de empenamento iniciada na madrugada, por volta das 3h, percorre a manhã. Neste momento, recebem um segundo nome indígena, o nome do próprio padrinho, porque é naquele momento que surge a relação de aproximação, tornando-se padrinho e afilhado, cuja denominação é Hopin (padrinho) e Itankwy (afilhado). Eles recebem o nome de acordo com a sua personalidade e função na aldeia. Através do nome é possível identificar qual pintura vai ser feita e a qual partido irão pertencer.
Fortalecimento da cultura
Atuando na proteção e fortalecimento da cultura, a Sepot apoiou a realização da festa com alimentação para os participantes e visitantes; transporte; e cobertura fotográfica para o acervo sobre os povos do Tocantins.
Revisão Textual: Célio Thorkã Kanela e Manoel Jr/Governo do Tocantins