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Política

EUA e China: quem vai ficar ao lado do Brasil?

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Por Kátia Abreu

*Senadora (PP-TO), foi ministra da Agricultura e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil*

 

Como presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado da República, gostaria de fazer um alerta aos dois principais parceiros econômicos e estratégicos do Brasil. E o faço porque cabe ao Senado brasileiro papel decisivo na diplomacia, desde a ratificação de tratados internacionais, passando pela aprovação dos chefes de nossas representações diplomáticas em todos os países e — por que não explicitar? — a própria definição de cada centavo do Orçamento do Ministério das Relações Exteriores, atribuição exclusiva do Congresso Nacional. Se o Poder Executivo brasileiro se isolou de sua interlocução internacional, importante lembrar que o governo brasileiro é exercido pelos três Poderes da República, com destaque para o Legislativo. E a pergunta que fazemos a nossos principais parceiros é clara: vocês vão abandonar o Brasil em sua pior hora ou vão apoiar e estreitar ainda mais nossos laços se posicionando como nossos melhores e mais confiáveis amigos?

 

A pandemia tem uma dolorosa e urgente dimensão humanitária. E é essa aflitiva premência que nos mobiliza a todos, atores políticos com responsabilidade, sob a liderança do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco. Mas, nas mesas de negociação diplomática, esse aspecto crucial e humano é tão implícito e irrefutável que, do ponto de vista das relações exteriores, o que temos de discutir são temas que extrapolam o drama em si, mas se conectam com os interesses permanentes de nossos povos. Senhores líderes de todas as nações do planeta, especialmente dirigindo-me aos governos dos Estados Unidos e da China: a pandemia passará. Com maior ou menor sacrifício, superaremos esse calvário. Temos a chance de minimizar o sofrimento do nosso povo. E a questão que ficará para sempre será: quem nos apoiou, quem nos estendeu a mão, na hora do nosso maior padecimento?

 

Não existe nenhum problema do Brasil que seja só do Brasil. Qualquer problema brasileiro pertence ao mundo, pois a importância do país nas cadeias de produção global o credenciam para isso. Somos o maior exportador de alimentos da humanidade, somos o maior fornecedor de insumos no campo mineral, somos os guardiões da maior parcela do maior pulmão do planeta, a Amazônia. O Brasil não pode, com todo o respeito aos demais países e a todos os povos, ser tratado pela comunidade internacional e, sobretudo, pelos Estados Unidos e pela China (que detêm hoje o domínio na produção das vacinas da pandemia) como uma ilha no meio do oceano, cuja única atração são suas belezas naturais, que também temos, de sobra, por sinal.

 

A questão é ajudar o Brasil imediatamente — repito, imediatamente — e disponibilizar 100 milhões de doses num prazo curtíssimo, para que possamos imunizar um terço da população do país — neste auge do vácuo de soluções da pandemia. Não é só um problema sanitário. É uma questão geopolítica. Ou as duas maiores nações do planeta, detentoras da solução para remediar e manter uma nação como o Brasil de pé e com dignidade, entendem que estes dias podem definir o relacionamento de nossas nações pelas próximas décadas, ou estarão cometendo um erro histórico de avaliação diplomática.

 

Por mais que o atual Poder Executivo tenha cometido erros e extrapolações, a governança brasileira continuará. E é composta pelos demais poderes, pelo empresariado, pelas classes trabalhadoras, pela intelectualidade e por diversos outros setores, aí incluídos os empreendedores do campo, que faço questão de destacar. Não podemos ter a arrogância subalterna que hoje o Itamaraty em Brasília mostra ao mundo. Temos de ter a humildade altiva de sabermos quem somos e quem continuaremos a ser, com quem contamos e com quem poderemos contar. A pandemia, sem duvida, é uma crise. Mas é também uma grande oportunidade para fazer uma pequena aposta no Brasil, de forma a provar quem são nossos verdadeiros aliados. O Brasil das próximas décadas será marcado pela gratidão a esse gesto.

 

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